Alta generalizada dos alimentos impulsiona o IPS, índice calculado pela APAS e pela Fipe, para 2,64% no mês de março, o maior da série histórica para o mês
O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), apurado pela APAS (Associação Paulista de Supermercados) em parceria com a Fipe, foi de 2,64% em março, o maior da série histórica para o mês. O grupo de alimentos foi um dos mais impactos pela alta das commodities, o que explica a aceleração registrada. O IPS acumulado em 12 meses chegou a 15,22%.
A conflito entre Ucrânia e Rússia, a alta dos combustíveis, a desorganização das cadeias logísticas e a inflação generalizada no mundo pressionam os preços no Brasil e refletem na ponta do consumo, onde estão os supermercados e a população. “A expectativa para o primeiro semestre deste ano é de instabilidade em muitos setores da economia, principalmente naqueles que são sensíveis aos preços internacionais das commodities. O processo de alta é generalizado. A desmobilização da cadeia de suprimentos no mundo produz inflação mundial no curto prazo, já que a realocação da cadeia produz elevação no custo logístico. A inflação nos Estados Unidos já chega a 7,8% e é a maior em 40 anos, na Zona do Euro a inflação fechou o mês de março em 7,5%. No Brasil não é diferente, o IPCA volta a ganhar força por conta da pressão internacional e acumula 10,54% nos últimos 12 meses. Novas projeções para a taxa de juros já chegam a 13% a.a. até o término de 2022. Portanto, nesse cenário inflacionário cabe aos supermercados negociar cada vez mais com os fornecedores e ao consumidor ampliar as buscar por alternativas de produtos que ainda não receberam todo o peso da inflação, como é o caso dos cortes suínos e seus derivados, por exemplo, que elevaram sua oferta interna por conta do rompimento da exportação para a Rússia”, explica Diego Pereira, economista da APAS
Alta das commodities
Desde 2020 o mercado sinaliza alta nos preços das principais commodities. O conflito entre Rússia e Ucrânia acelerou essa tendência. O relatório do Banco Central aponta que a escalada dos preços internacionais não dá sinas de reversão (gráfico abaixo)
Produtos industrializados e estiagem
Outro fator que pesa na composição do preço são os custos de produção dos produtos alimentícios industrializados. O custo nos serviços de logística, de matérias-primas e da energia elétrica tiveram elevação de 16,09% em março.
Fatores climáticos também influenciaram na alta dos industrializados. A estiagem na região Sul reduziu a área de pasto, deteriorou a qualidade da forragem e da silagem, intensificando o efeito da entressafra. Em março, por exemplo, o leite inflacionou 7,80% e, no acumulado, 10,13%.
Proteínas animais
Os cortes suínos, na contramão das demais proteínas animais, apresentaram deflação (7,62%) pelo 12º mês seguido, beneficiados principalmente pelo aumento de produção (4,86%) em relação ao mesmo período de 2021. A tendência, segundo Diego Pereira, é de queda no primeiro semestre. “A guerra dificultou a exportação da nossa carne suína para a Rússia. Por isso, a oferta no mercado interno deverá continuar alta”, avalia o economista.
PRODUTOS | 2021 | 2022 | 2022 | 2022 | acumulado |
março | fevereiro | março | 12 meses | ano 2022 | |
CARNES SUÍNAS | 0,29 | -3,09 | -0,16 | -7,62 | -6,79 |
PERNIL C/ OSSO | 2,26 | -3,76 | -1,65 | -10,30 | -11,43 |
LOMBO C/ OSSO | 0,48 | -2,84 | -1,13 | -13,88 | -8,90 |
COSTELA SUÍNA | -1,44 | -2,79 | 1,98 | 1,10 | -0,77 |
Os pescados foram impactados diretamente pelo aumento dos preços dos combustíveis para pesca selvagem e da ração para a piscicultura. Mesmo assim, essa cesta apresentou queda de 0,91% em março, apesar de aumentos pontuais, como a da pescada (4,33%). O setor enxerga com otimismo a venda de pescados nesta Páscoa. “A volta aos encontros presenciais incentiva as famílias a comemorar a data”, analisa Pereira.
PRODUTOS | 2021 | 2022 | 2022 | 2022 | Acumulado |
março | fevereiro | março | 12 meses | ano 2022 | |
PESCADOS | -0,11 | 1,54 | -0,91 | 12,86 | 2,92 |
PESCADA | -0,09 | 0,28 | 4,33 | 10,36 | 4,62 |
SARDINHA | 1,24 | 0,00 | -1,45 | 7,14 | 1,25 |
CAÇÃO | 1,00 | 0,37 | 0,78 | 18,19 | 6,46 |
CORVINA | 1,76 | 1,08 | -3,25 | 11,52 | 12,21 |
MERLUZA | -0,75 | 3,67 | -3,58 | 20,87 | 1,73 |
CAMARÃO | -0,97 | 1,28 | -0,53 | 7,79 | -0,85 |
Hortifrutigranjeiros
Os hortifrutis (produtos in natura) tiveram inflação de 8,93% em março, com acumulado de 31,58% nos últimos 12 meses. Os preços foram puxados pelos legumes e verduras, que apresentaram aceleração de 18,75% e 13,77% em março, respectivamente.
O setor agrícola vem sofrendo forte pressão inflacionária causada principalmente pelo aumento dos combustíveis e pelas dificuldades da importação de fertilizantes. Os nitrogenados e fosfatados já apresentavam supervalorização desde o ano passado, tendência que se intensificou com a guerra, pois a Rússia era a principal exportadora de fertilizantes para o Brasil.
PRODUTOS | 2021 | 2022 | 2022 | 2022 | acumulado |
março | fevereiro | março | 12 meses | ano 2022 | |
PRODUTOS IN NATURA | -2,34 | 9,07 | 8,93 | 31,58 | 23,61 |
FRUTAS | -1,67 | 2,24 | 4,72 | 17,92 | 6,21 |
LARANJA | -2,96 | -1,16 | 4,88 | 18,28 | 2,24 |
LIMÃO | -1,23 | -0,69 | -17,45 | -28,34 | -32,36 |
BANANA | -4,20 | -5,60 | 3,84 | 11,47 | 0,97 |
MAÇÃ | -20,15 | 19,19 | 14,44 | 33,23 | 38,43 |
MAMÃO | 29,56 | 11,31 | 23,68 | 89,82 | 31,66 |
UVA | 9,48 | 4,30 | 3,80 | 19,05 | 12,38 |
PERA | -7,20 | -0,29 | -12,19 | -2,41 | -8,15 |
MELANCIA | 3,35 | 30,74 | 7,08 | 28,13 | 41,33 |
MELÃO | -7,77 | 22,21 | 36,32 | 72,50 | 63,18 |
ABACAXI | -2,03 | -13,96 | -5,39 | -3,03 | -16,62 |
MARACUJÁ | -14,12 | -22,05 | 6,75 | 40,86 | -30,34 |
FRUTAS DE ÉPOCA | 2,73 | -1,42 | -2,17 | -3,74 | -3,57 |
LEGUMES | -4,34 | 18,14 | 18,75 | 90,76 | 57,41 |
TOMATE | -6,97 | -1,17 | 41,27 | 134,04 | 48,62 |
CENOURA | -10,68 | 82,32 | 32,23 | 246,13 | 220,95 |
PIMENTÃO | 20,45 | 27,40 | 11,17 | 52,26 | 32,68 |
VAGEM | 21,84 | 15,89 | 5,45 | 14,19 | 44,06 |
CHUCHU | -27,25 | 52,27 | -26,30 | 48,82 | 51,90 |
BETERRABA | 0,43 | 31,80 | 18,83 | 52,89 | 85,38 |
ABOBRINHA | -3,23 | 24,48 | -6,07 | 48,55 | 48,77 |
ABÓBORA | -2,73 | 3,43 | 10,14 | 14,06 | 10,11 |
QUIABO | -6,99 | -1,16 | 3,45 | 47,64 | 23,28 |
PEPINO | 1,70 | 0,45 | 5,25 | 18,82 | 38,09 |
MANDIOQUINHA | 0,02 | 25,60 | 1,00 | 69,54 | 29,78 |
MANDIOCA | -2,50 | -0,80 | -1,79 | 7,16 | -3,84 |
BERINJELA | -12,32 | 38,37 | -4,60 | 39,91 | 29,50 |
JILÓ | 3,74 | 0,15 | 8,65 | 16,39 | 12,63 |
TUBÉRCULOS | -6,73 | 9,01 | 4,44 | 18,22 | 23,51 |
BATATA | -13,11 | 20,24 | 4,01 | 41,89 | 48,03 |
CEBOLA | -7,59 | 1,98 | 8,46 | 6,13 | 13,73 |
ALHO | 5,20 | -0,01 | 1,18 | -0,99 | 1,07 |
VERDURAS | -0,62 | 22,79 | 13,77 | 41,11 | 43,95 |
ALFACE | -0,16 | 29,46 | 13,94 | 44,77 | 48,51 |
ESCAROLA | -3,75 | 17,45 | 13,26 | 35,97 | 34,71 |
AGRIÃO | -3,09 | 18,75 | 10,63 | 23,93 | 37,00 |
COUVE | -1,31 | 17,15 | 14,01 | 34,55 | 43,68 |
REPOLHO | -4,26 | 45,23 | 34,24 | 123,15 | 91,00 |
COUVE-FLOR | -1,57 | 12,49 | 10,45 | 22,45 | 24,53 |
BRÓCOLIS | -0,77 | 10,13 | 7,33 | 26,87 | 23,57 |
SALSA/CEBOLINHA | 2,65 | 13,95 | 9,82 | 27,97 | 34,64 |
COENTRO | 0,81 | 14,07 | 8,73 | 25,41 | 31,54 |
Fonte: IPS/FIPE
Elaboração : Consultoria Econômica APAS
Bebidas
As bebidas alcoólicas registraram inflação de 0,35% em março e 5,17% no acumulado de 12 meses, com destaque para a cerveja, que subiu 0,24% por conta dos preços ajustados pela indústria. O setor conseguiu, até 2021, absorver a elevação dos fretes marítimos, mas agora começa a repassar os preços por conta das repetidas altas na cotação do barril de petróleo.
Já as bebidas não alcoólicas tiveram alta de 0,98% e de 9,77% no acumulado dos últimos 12 meses. Os refrigerantes foram o destaque, com aumento de 1,27% em março e 13,96% no acumulado dos 12 meses, acompanhando a subida dos preços internacionais do açúcar.
Nota Metodológica: O Índice de Preços dos Supermercados tem como objetivo acompanhar as variações relativas de preços praticados no setor supermercadista ao longo do tempo. O Índice de Preços dos Supermercados é composto por 225 itens pesquisados mensalmente em 6 categorias: i) Semielaborados (Carnes Bovinas, Carnes Suínas, Aves, Pescados, Leite, Cereais); ii) Industrializados (Derivados do Leite, Derivados da Carne, Panificados, Café, Achocolatado em Pó e Chás, Adoçantes, Doces, Biscoitos e Salgadinhos, Óleos, Massas, Farinha e Féculas, Condimentos e Sopa, Enlatados e Conservas, Alimentos prontos,); iii) Produto In Natura (Frutas, Legumes, Tubérculos, Ovos, Verduras); iv) Bebidas (Bebidas Alcoólicas, Bebidas Não Alcoólicas); v) Artigos de Limpeza; vi) Artigos de Higiene e Beleza. Assim, o IPS se apresenta como instrumento útil aos empresários do setor na tomada de decisões com relação a preços e custos dos mais diversos produtos. No que diz respeito à indústria, de maneira análoga, possibilita a tomada de decisão com relação a preços e custos dos produtos destinados aos supermercados. Ao mercado e aos consumidores é útil para a análise da variação de preços ao longo do tempo possibilitando o acompanhamento da evolução dos custos ao consumidor do setor supermercadista.
Tags: